segunda-feira, 11 de abril de 2011

Portugal e os Ultimatos

Olhando para a actual realidade em que Portugal se encontra, não posso deixar de estabelecer paralelo com outro episódio em que o país se precipitou para uma situação embaraçosa perante a comunidade internacional. Falo do episódio conhecido como o Ultimato Inglês, há 121 anos.


Na altura, mesmo sabendo do perigo que representavam as suas ambições, Portugal insistiu imprudentemente no seu mapa cor-de-rosa confrontando abertamente uma potência militarmente superior ao colidir com os declarados interesses britânicos. Com ou sem razão, o país não soube usar a inteligência e apostar na diplomacia para conseguir prevenir a situação, diminuir as perdas coloniais que então sofreu e evitar a vergonha de se subjugar perante a ameaça de outro país.


Hoje, como então, Portugal não soube prevenir-se da vergonha perante os olhares externos. Durante anos, os Governos gastaram acima das suas possibilidades sob o estandarte da prosperidade e do desenvolvimento… Mas eis que começou a chegar a factura e, com ela, as dificuldades agravadas por uma crise oportuna para poderosos interesses. E começou a pressão sobre o Euro, atacando as suas fragilidades. Eliminaram o elo mais fraco, depois outro… e eis que é chegada a hora lusa. Começaram a cortar no rating, a aumentar os juros sobre o financiamento nacional, a especular sobre a entrada do FMI em Portugal… E Portugal não percebeu. Se dependemos do mercado financeiro para sobreviver, então temos de saber jogar com ele.


Hoje, como então, o país insistiu no seu orgulho em detrimento da inteligência e não soube negociar o inevitável num contexto mais vantajoso. Hoje, como então, foi preciso um ultimato levar Portugal a acordar para a realidade e se subjugar vergonhosamente perante os olhares críticos do mundo; ultimato das agências de rating, ao desclassificarem Portugal para níveis próximos do” lixo” e com perspectivas de descer; ultimato dos bancos que, perante as dificuldades, anunciaram o corte de financiamento ao Estado. Se não fosse este ultimato, Portugal continuaria a contrair empréstimos com juros incomportáveis, avançando orgulhosamente para a sua ruína.


Será que não aprendemos?


Em 1890 as mudanças foram profundas, o Governo caiu e, mais tarde, levou consigo a própria monarquia. E hoje, haverá coragem para as mudanças necessárias?